Israel vai permitir que países lancem ajuda humanitária aérea em Gaza; palestinos enfrentam desnutrição e ‘fome em massa’
Crianças desnutridas recebem tratamento em hospital de Gaza, ONU fala em crise humanitária
Um vídeo divulgado pela agência Reuters nesta quinta-feira (24) mostra crianças palestinas atendidas com desnutrição severa em um hospital de Khan Yhounis, em Gaza. A Organização das Nações Unidas (ONU) e as entidades de ajuda humanitária pressionam Israel, mas o governo Netanyahu afirma que o grupo terrorista Hamas e a própria ONU impedem que os alimentos cheguem à população.
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Mais de 100 grupos de ajuda humanitária e direitos humanos alertaram que a “fome em massa” se espalha entre os mais de 2 milhões de palestinos em Gaza. Já a ONU fala em “show de horrores”.
O World Food Program, que é um braço das Nações Unidas, disse esta semana que a crise de fome em Gaza atingiu “novos e surpreendentes níveis de desespero, com um terço da população sem comer por vários dias seguidos”.
Na quarta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que 21 crianças de até cinco anos morreram de desnutrição em 2025.
“‘As pessoas em Gaza não estão nem mortas nem vivas, são cadáveres ambulantes’: disse-me um colega em Gaza nesta manhã”, disse Philippe Lazzarini, comissário geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), nesta quinta-feira (24).
“Enquanto isso, de acordo com as últimas descobertas da UNRWA: uma em cada cinco crianças está desnutrida na cidade de Gaza, com o número de casos aumentando a cada dia […]. A maioria das crianças atendidas por nossas equipes está fraca e corre alto risco de morrer se não receber o tratamento de que necessita urgentemente.”
A guerra em Gaza foi deflagrada em 7 de outubro de 2023, quando terroristas do Hamas invadiram o território israelense, o que resultou na morte de 1.219 pessoas.
A operação militar de Israel em Gaza matou mais de 59.100 palestinos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
Israel diz que ONU se recusa a distribuir ajuda
As Forças de Defesa de Israel (IDF) negaram que estivessem bloqueando a entrada de ajuda humanitária no território palestino, afirmando que 950 caminhões com ajuda estavam no lado de Gaza da fronteira, aguardando a coleta e distribuição por organizações internacionais.
“Centenas de caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza com a aprovação de Israel, mas os suprimentos estão parados, sem serem entregues. O motivo? A ONU se recusa a distribuir a ajuda. O Hamas e a ONU impedem que a ajuda chegue aos civis em Gaza. O mundo merece saber a verdade”, disse o governo israelense.
A ONU afirma que não tem como confirmar as explicações dadas por Israel, pois seus agentes não tiveram permissão para acompanhar as travessias com ajuda humanitária.
“Apesar de nossos repetidos pedidos, Israel não permitiu a presença da ONU nas travessias, que são áreas militarizadas”, disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
Crianças palestinas esperam por uma refeição em uma cozinha de caridade na área de Mawasi, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 22 de julho de 2025
AFP
Gaza Humanitarian Foundation
Desde o fim de maio, quando Israel reabriu as fronteiras de Gaza para a entrada de ajuda humanitária após meses de fornecimento interrompido, a distribuição de alimentos tem sido feita por uma organização chamada Gaza Humaniarian Foundaton (GHF).
A fundação é criticada pela ONU e outras agências humanitárias por suas origens obscuras e falta de experiência em crises semelhantes.
Na quarta-feira, a Gaza Humanitarian Foundation ofereceu-se à ONU e a outras organizações para “entregar toda a sua ajuda atual gratuitamente… à medida que a fome atinge um patamar crítico”.
Os centros de distribuição da GHF, porém, são palco de incidentes quase diários em que palestinos são feridos e mortos por tiros disparados por forças da fundação incumbidas de garantir a ordem.
Segundo a ONU, mais de 1.000 palestinos já morreram em incidentes do tipo desde o início das operações da GHF.
“O tempo é curto. As pessoas estão morrendo de fome”, disse o presidente executivo da fundação, Johnnie Moore.
A Fundação Humanitária de Gaza afirma ter entregue quase 1,5 milhão de caixas de alimentos em Gaza.
A ONU e os principais grupos de ajuda humanitária se recusaram a trabalhar com a Fundação Humanitária de Gaza devido a preocupações de que ela tenha sido projetada para atender a objetivos militares israelenses e violar princípios humanitários básicos.
A porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, disse na terça-feira que a agência da ONU para refugiados palestinos tinha 6.000 caminhões de alimentos e medicamentos em espera na Jordânia e no Egito, mas não estava autorizada a levar ajuda para Gaza desde 2 de março.
Embora o GHF tenha montado quatro pontos de distribuição, “a ONU e os humanitários tinham 400” antes de estes serem fechados em março por Israel, observou ela.