Trump defende Bolsonaro: ‘Não é como se ele fosse meu amigo, é alguém que eu conheço’
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (15) que anunciou as tarifas de 50% sobre a importação de produtos brasileiros porque “pode fazer isso” e quer “dinheiro entrando” no país.
A justificativa veio após jornalistas questionarem o republicano sobre a maior taxa anunciada até o momento, em uma lista de mais de 20 países que deverão enfrentar tarifas de importação nos EUA a partir de 1º de agosto.
“Estamos fazendo isso porque eu posso. Ninguém mais conseguiria”, disse Trump no gramado da Casa Branca. “Temos tarifas em vigor porque queremos tarifas e queremos o dinheiro entrando nos EUA”, acrescentou.
Em carta endereçada ao presidente Lula (PT) na última quarta-feira (9), Trump argumentou que irá elevar a taxa do Brasil em 50% por ter uma relação comercial “injusta” com o Brasil. Os dados oficiais, no entanto, mostram que os norte-americanos são superavitários na balança comercial.
Além disso, ele citou Jair Bolsonaro (PL) e disse ser “uma vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta terça-feira, o republicano também voltou a defender Bolsonaro. Trump foi questionado por repórteres após ser informado sobre o pedido de condenação apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em sua fala, Trump disse que “não é que ele seja amigo” de Bolsonaro, mas é alguém que ele conhece. Ele também reafirmou, sem apresentar provas, que o julgamento de Bolsonaro STF seria uma “caça às bruxas”.
“O presidente Bolsonaro é um bom homem. Conheci muitos primeiros-ministros, presidentes, reis e rainhas, e sei que sou muito bom nisso. O presidente Bolsonaro não é um homem desonesto. Ele ama o povo brasileiro. Ele lutou muito pelo povo brasileiro”, disse Trump.
“Ele negociou acordos comerciais contra mim em nome do povo brasileiro, e foi muito duro, porque queria fazer um bom negócio para seu país. Ele não era um homem desonesto. Acredito que isso seja uma caça às bruxas e que não deveria estar acontecendo. Eu sei disso”, continuou.
“Veja, não é que ele seja meu amigo. Ele é alguém que eu conheço. Sei que ele representa milhões de brasileiros, são ótimas pessoas, ele ama o país e lutou muito por essas pessoas. E eles querem prendê-lo. Acho que isso é uma caça às bruxas e acho muito lamentável”, concluiu.
Déficit comercial?
Ao justificar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump afirmou que a relação comercial dos EUA com o Brasil é “injusta”. “Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco”, escreveu.
“Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os EUA. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional”, disse Trump na carta a Lula.
Apesar do argumento, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram o contrário. O Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos. Isso significa que o Brasil gastou mais com importações do que arrecadou com exportações.
Ao longo desse período, as vendas americanas ao Brasil superaram as importações em US$ 90,28 bilhões (equivalente a R$ 493 bilhões na cotação atual), considerando os números até junho de 2025. Leia mais aqui.
Por isso, analistas afirmam que a postura de Trump com as tarifas tem um forte componente geopolítico, com o objetivo principal de ampliar seu poder de barganha e influência nas relações internacionais.
Na carta, o republicano também afirmou que o Brasil não será atingido pela tarifa em 1º de agosto caso empresas brasileiras decidam “construir ou fabricar produtos dentro dos EUA”. Em caso de retaliação, ele prometeu devolver na mesma medida.
“Se por qualquer razão o senhor [presidente Lula] decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos”, declarou.
O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com membros da imprensa no gramado da Casa Branca, em Washington, D.C., em 18 de junho de 2025.
Reuters/Kevin Lamarque