Escândalos de corrupção vêm sacodindo o governo da Rússia desde o início da guerra com a Ucrânia. Imprensa russa relata que ministro morto era investigado e seria preso. Familiares e amigos de Roman Starovoit choraram durante funeral em Moscou, em 10 de julho de 2025
Dmitri Lovetsky/AP
A morte do ministro dos Transportes da Rússia, destituído por Vladimir Putin e investigado por corrupção, chocou a elite política do país. Centenas de pessoas, incluindo ministros e funcionários de alto escalão do governo, velaram o corpo de Roman Starovoit em Moscou na quinta-feira (10).
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O político de 53 anos foi encontrado morto em seu carro na segunda-feira (7), horas após ser destituído pelo presidente russo. Investigadores afirmam que ele se suicidou com um tiro.
Embora as circunstâncias de sua morte ainda não sejam claras, a imprensa russa relata que Starovoit era investigado por corrupção e que em breve seria preso.
O clima no velório era pesado. Seus ex-colegas deixaram grandes buquês de rosas vermelhas ao lado do caixão aberto e partiram rapidamente em seus veículos de luxo.
Muitos presentes se recusaram a falar com a AFP. Vladimir Putin não participou da cerimônia.
‘Bode expiatório’
Roman Starovoit
Sputnik/Gavriil Grigorov/Pool via REUTERS
Roman Starovoit foi governador da região de Kursk, na fronteira com a Ucrânia, antes de ser promovido a ministro em maio de 2024.
Três meses depois, tropas ucranianas tomaram parte da região em uma ofensiva surpresa, surpreendendo o Kremlin, que só recuperou totalmente o território nove meses depois.
O sucessor de Starovoit neste cargo, Alexei Smirnov, foi recentemente preso por desviar fundos destinados ao fortalecimento das defesas da fronteira.
As autoridades “tentaram fazer dele [Starovoit] um bode expiatório”, disse à AFP Andrei Pertsev, analista do veículo de comunicação independente Meduza, proibido na Rússia e classificado como organização “indesejável”.
A incursão ucraniana “ocorreu principalmente porque não havia soldados suficientes para proteger a fronteira”, mas era “mais fácil culpar uma autoridade civil”, explicou.
O caso faz parte de uma recente repressão a funcionários suspeitos de enriquecimento ilícito durante a ofensiva russa na Ucrânia.
Escândalos de corrupção sempre existiram na Rússia, mas a campanha militar contra o país vizinho mudou as regras do jogo político, segundo diversos analistas.
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‘Guerra santa’
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Embora Putin prometesse regularmente combater a corrupção, as poucas prisões no alto escalão serviram para atacar opositores ou foram resultado de conflitos internos no governo.
Mas desde a ofensiva lançada contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, “algo no sistema começou a funcionar completamente diferente”, observa a cientista política Tatiana Stanovaya, do Carnegie Russia Eurasia Center, também proibido e classificado por Moscou como “indesejável”.
Para o Kremlin, a campanha na Ucrânia é uma “guerra santa” que reescreveu as regras, afirma Nina Khrushchev, professora da The New School em Nova York e bisneta do ex-líder soviético Nikita Khrushchev.
“Durante uma guerra santa, você não rouba (…) Você aperta o cinto e trabalha 24 horas por dia”, resume.
Como sinal dos novos tempos, vários generais e funcionários do Ministério da Defesa foram presos por desvios de recursos públicos nos últimos anos.
No início de julho, o ex-vice-ministro da Defesa Timur Ivanov foi condenado a 13 anos de prisão.
Essa atmosfera, afirma Stanovaya, criou um “sentimento de desesperança” entre a elite política de Moscou que dificilmente se dissipará. “No futuro, o sistema estará preparado para sacrificar figuras cada vez mais proeminentes”, alerta.
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