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Entrada dos EUA na guerra causaria ‘inferno na região’, diz vice-ministro do Irã à BBC

Em meio ao conflito em curso, o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Saeed Khatibzadeh, alerta os Estados Unidos para não se juntarem à ofensiva israelense. Em entrevista exclusiva à BBC, o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Saeed Khatibzadeh, afirmou que, se os Estados Unidos se juntarem a Israel na ofensiva contra o Irã, haverá “um inferno em toda a região”.
Falando à jornalista da BBC Lyse Doucet, Khatibzadeh disse que, se o presidente americano Donald Trump decidir participar do conflito, será lembrado por ter entrado em “uma guerra que não era dele”.
Nesta quinta-feira (19/06), a Casa Branca anunciou que Trump decidirá nas próximas duas semanas se os EUA se envolverão diretamente na guerra.
Mais de 270 pessoas ficaram feridas em Israel após o Irã disparar uma série de mísseis na quinta-feira, de acordo com o Ministério da Saúde de Israel.
Um desses mísseis atingiu um dos principais hospitais no sul de Israel, causando danos extensos, segundo autoridades israelenses.
Após o ataque ao Hospital Soroka, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse que o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, “não pode mais existir”.
Mas o Irã nega ter atacado o hospital e afirma que o ataque teve como alvo uma base militar próxima.
Após uma primeira onda de ataques israelenses danificar a usina de enriquecimento de urânio de Natanz e matar importantes cientistas nucleares iranianos, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que seu país agiu porque “se não for controlado, o Irã poderá produzir uma arma nuclear em um prazo muito curto”.
Abaixo, trechos da entrevista da BBC com o vice-ministro Saeed Khatibzadeh.
BBC – Foi noticiado que o presidente Trump aprovou um plano militar, mas ainda não decidiu se entrará na guerra. O que estão esperando em Teerã?
Saeed Khatibzadeh – Estamos sob ataque. Um ato de agressão ocorreu. Estávamos engajados na diplomacia — lembre-se, estivemos juntos em Oslo, Noruega, quando a sexta rodada de negociações nucleares estava sendo planejada em Mascate, Omã. Estávamos prestes a chegar a um acordo.
De repente, os israelenses decidiram iniciar um ato de agressão contra o Irã e partir para a ofensiva para sabotar todo o processo. As mensagens que recebemos dos americanos, mensagens secretas, indicam que eles não estão envolvidos e não estarão envolvidos.
Mas as mensagens públicas que recebemos por meio dos tuítes e entrevistas do presidente Trump indicam claramente que os americanos estiveram presentes, participaram e apoiaram os ataques.
BBC – O senhor mencionou mensagens secretas. O presidente Trump diz que os iranianos estão lhe dizendo que querem ir à Casa Branca, que querem negociar. O que mais lhe disseram? Que há uma saída para a guerra que está se intensificando?
Khatibzadeh – O que está acontecendo agora é um ato de agressão.
BBC – Vamos olhar para a saída do conflito. Já se passaram sete dias que os países estão se atacando.
Khatibzadeh – Não, não, não estamos atacando mutuamente. Estamos nos defendendo.
BBC – Mas os senhores também estão atacando Israel. Hoje, atacaram um hospital, um hospital civil, enquanto miravam em um alvo militar.
Khatibzadeh – Não, não.
BBC – Há alguma maneira de acabar com esta guerra?
Khatibzadeh – Lyse, este regime genocida iniciou a guerra contra o Irã. Eles nos atacaram. Atacaram nossos hospitais. Mataram nossos principais comandantes.
Estamos agindo em legítima defesa, de acordo com o Artigo 51 da Carta da ONU.
Continuaremos com essa legítima defesa até que o agressor aprenda a lição de que não pode simplesmente atacar outro país, outro país soberano.
BBC – Khatibzadeh, o que aconteceria se o presidente Trump decidisse envolver os Estados Unidos na guerra? O Irã disse que todas as opções estão sobre a mesa. O que os senhores querem dizer com isso?
Khatibzadeh – Acreditamos que esta guerra não é uma guerra americana, mas se eles quiserem se envolver, o presidente Trump será lembrado para sempre por uma guerra que não era dele, mas para a qual ele arrastou [o país].
Isso será um atoleiro, um inferno na região.
BBC – Não é um risco enorme para o Irã? O Irã não é páreo para a maior potência militar do mundo, e o povo iraniano já está sofrendo muito.
Khatibzadeh – Há uma unidade nacional, e o que estamos vendo agora é precisamente essa unidade nacional dentro e fora do Irã.
Não se trata de quem tem a vantagem em termos de poder coercitivo. É uma questão de resistência. Resistiremos; é claro, a diplomacia sempre foi uma opção.
O presidente Trump sabe melhor do que ninguém que estávamos prestes a chegar a um acordo.
E um dos debates agora é que [Benjamin] Netanyahu, sabendo que estávamos prestes a chegar a um acordo, tentou sabotá-lo.
Não quero julgar agora, mas o presidente Trump sabe disso melhor do que ninguém.
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BBC – O presidente Trump diz que havia um acordo que os senhores poderiam ter aceitado, mas não aceitaram. Existe algum acordo que os senhores aceitariam para evitar a guerra?
Khatibzadeh – Não havia nada em discussão. Trocamos algumas mensagens e estávamos negociando algumas partes. Não estou aqui para entrar em detalhes. Posso lhe dizer quando tiverem tempo para entrar em todos os detalhes.
Mas até o presidente Trump sabe que Steve Witkoff [enviado especial dos EUA para o Oriente Médio] está mandando mensagens para o nosso Secretário de Estado.
E ele também sabe que, quando não estão no ar, você pode conversar com eles e entender que este regime genocida de apartheid de Israel sabotou a diplomacia por muitos anos.
Hoje, justamente hoje, o diretor da AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica] disse que não há evidências de que o Irã tenha desenvolvido ou tentado desenvolver nossa bomba nuclear.
BBC – A AIEA diz que os senhores estão enriquecendo urânio a 60%, o que não é necessário para um programa nuclear civil, e muitos se perguntam por que estão enriquecendo urânio a um nível tão alto. Haveria a intenção de atingir 90% e desenvolver uma bomba nuclear.
Khatibzadeh – Você não pode começar uma guerra com base em especulações ou intenções.
BBC – Mas há uma preocupação.
Khatibzadeh – Isso é um absurdo. Veja, Israel atacou, sendo um não-membro do TNP [Tratado de Não Proliferação Nuclear] e possuindo ogivas nucleares.
O Irã não possui ogivas nucleares. O Irã é membro do TNP.
A supervisão da AIEA está atualmente ocorrendo dentro do Irã, e eles [Israel] atacam nossas forças armadas, bem como nossas instalações nucleares. Esta é uma decisão muito, muito, muito ruim.
Esta é uma ação terrível por parte dos israelenses, e a AIEA e outras organizações internacionais não a condenaram.
É uma ação muito perigosa, porque a partir de agora, qualquer um pode atacar outros sob a supervisão da AIEA — isto é, instalações nucleares pacíficas.
O que está acontecendo é uma ação muito perigosa por parte dos israelenses e, infelizmente, europeus e americanos não entendem que essa ação perigosa poderia facilmente criar um novo atoleiro em nossa região.
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BBC – O senhor acha que a reunião na sexta-feira em Genebra [dos ministros das Relações Exteriores europeus com seus homólogos iranianos] pode ajudar a acalmar o conflito?
Khatibzadeh – Sempre estivemos disponíveis para a diplomacia e esperamos que essa linha continue — mas isso é diferente de autodefesa, que é o que está acontecendo agora.
Meu país está sob ataque e o agressor deveria aprender uma lição.
Eles estão matando meu povo e nós resistiremos. Esta é uma resistência muito sagrada que está acontecendo agora contra as atrocidades e agressões que estão sendo cometidas contra meu povo.
BBC – O que o senhor diz ao povo de Israel que agora está correndo para abrigos antiaéreos, que ouve o líder supremo iraniano dizer “morte a Israel”, que quer destruir Israel? Essa é a ambição do Irã? Realmente querem destruir Israel?
Khatibzadeh – Essas são suas palavras, Lyse, não as do nosso líder. Veja o que meu líder disse. Ele disse que não estávamos à beira de nenhum ataque militar ou de qualquer ação drástica contra ninguém.
Todos sabem que esta guerra não foi provocada, que é desnecessária. Eles atacaram meu povo, atacaram nossos comandantes seniores. Mataram 63 crianças iranianas na primeira noite.
BBC – Civis estão morrendo em ambos os lados.
Khatibzadeh – Não. Quem começou esta guerra? Quem tem uma ogiva nuclear? Israel não é membro do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Israel tem centenas de ogivas nucleares. Israel iniciou esta ofensiva, esses são os fatos.
BBC – O senhor poderia dar alguma garantia aos iranianos que estão fugindo para salvar suas vidas, que querem que esta guerra acabe?
Khatibzadeh – No momento em que eles pararem com essas atrocidades, no momento em que o agressor aceitar sua responsabilidade de acabar com a impunidade dos israelenses, acho que será o momento em que toda a região poderá avançar.
BBC – Então, você poderia confirmar que o Irã não tem intenção de desenvolver uma bomba nuclear? Porque essa é a grande pergunta que todos estão se fazendo.
Khatibzadeh – Se quiséssemos uma bomba nuclear, já a teríamos antes. Vamos repetir que o Irã nunca desenvolveu nenhum programa para transformar nossas atividades pacíficas em armas nucleares, e nunca o fará.

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