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Oceanos estão à beira da morte; ainda dá tempo de salvá-los?
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Oceanos estão à beira da morte; ainda dá tempo de salvá-los?

Comunidade internacional se reúne na segunda-feira (9) em Nice, na França, na Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (Unoc-3). O oceano absorve cerca de um quarto do CO2 que é emitido na atmosfera
Getty Images via BBC
Mudanças climáticas, lixo plástico, pesca predatória – nossos mares estão sofrendo.
Protegê-los é fundamental para o equilíbrio do clima e da natureza. O mar é a casa de mais de 250 mil espécies – dos minúsculos plânctons e enormes recifes de corais à baleia azul, o maior animal do planeta. E para mais de um bilhão de pessoas, ele é também a principal fonte de alimento.
A partir desta segunda-feira (9), a comunidade internacional se reúne em Nice, na França, na Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (Unoc-3) para discutir como proteger nossos oceanos. Veja, abaixo, quais são os principais desafios.
Oceanos mais quentes = menos vida
Grande parte da vida submarina está em risco por causa do aquecimento do planeta. O aumento das temperaturas provoca o branqueamento e morte dos corais, fenômeno que já afeta 84% de todos os recifes. Se os oceanos esquentarem apenas 1,5ºC em relação ao período pré-industrial, a maioria deles irá morrer.
“A partir de 2ºC, a destruição seria irreversível”, afirma Katja Matthes, que comanda o centro alemão de pesquisa Geomar, em Kiel.
E como a água mais quente consegue absorver menos oxigênio, isso põe em risco muitos outros seres vivos.
Pesquisas recentes apontam que o mar se aquece até uma profundidade de 2 mil metros. “Como consequência, o plâncton, os peixes e os mamíferos aquáticos ficam sem oxigênio. Vemos essas ‘zonas da morte’ aqui no Mar Báltico na Alemanha, onde a vida já é praticamente inviável”, explica Matthes.
Pesca predatória desequilibra sistemas marinhos
O ecossistema marinho também está ameaçado pela pesca excessiva e desregulada. A ONG ambientalista WWF estima que o número de espécies vítimas dessa prática triplicou nos últimos 50 anos. Quando se pesca demais, a vida marinha não consegue se recuperar no nível necessário.
Esse problema é especialmente visível no Mediterrâneo, onde a população de mais de metade é afetada pelo problema. Arenques, sardinhas e anchovas vão parar com frequência nas redes de pesca.
“Isso atrapalha a cadeia alimentar de mamíferos maiores e, consequentemente, todo um ecossistema”, afirma Matthes.
E não é só a natureza que sofre: a falta de peixe afeta diretamente quem depende desse alimento. No mundo inteiro, peixes são a principal fonte de proteína para mais de um bilhão de pessoas. E 600 milhões de pessoas dependem economicamente do mar, principalmente na China, Indonésia e Índia.
Mais plástico que peixe nos oceanos até 2050
Projeções apontam que o peso de todos os peixes combinados será superado em 2050 pela quantidade de lixo plástico no mar. A cada ano, o lixo cresce entre 8 e 10 milhões de toneladas, segundo estimativa do World Resources Institute. E a decomposição desse material pode levar até centenas de anos. Isso e o problema do microplástico afligem cada vez mais os seres marinhos.
A temperatura dos oceanos influencia o clima
A temperatura dos oceanos também tem efeitos sobre o clima e as temperaturas do ar. As estações chuvosas na América do Sul e na Ásia, por exemplo, são influenciadas pelas correntes marítimas globais.
Outro exemplo: a corrente do Golfo transporta água quente dos trópicos para o norte do Oceano Atlântico. Isso também influencia as temperaturas do ar geralmente amenas e, com isso, os altos rendimentos da agricultura na Europa.
O aumento das temperaturas nos mares também pode mudar o sistema de correntes oceânicas, segundo cientistas. Há indícios de que a corrente do Golfo já está desacelerando. Sem ela, o norte da Europa seria de 5 a 15 graus mais frio, calcula o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha.
O mar é um aliado na luta contra as mudanças climáticas.
Em 2023 e 2024, a temperatura da superfície do mar bateu novos recordes, de acordo com o último relatório do Copernicus, o serviço climático da União Europeia. E quanto mais a água esquenta, mais ela se espalha – esse é o principal motivo do aumento constante do nível do mar.
O mar se aquece porque ele absorve carbono e outros gases do efeito estufa – quase um terço das emissões provocadas por humanos. Com isso, o mar estabiliza o clima. “Sem essa função de reservatório, a temperatura na atmosfera já seria insuportável”, explica Carlos Duarte, pesquisador da Universidade Rei Abdullah, na Arábia Saudita.
“O oceano é nosso aliado na luta contra as mudanças climáticas – mas só enquanto mantivermos sua função”, pontua Matthes. Isso porque o aumento das temperaturas diminui a capacidade de absorção de CO2 pelos oceanos.
E um mar com mais carbono torna-se cada vez mais ácido, o que leva à morte de moluscos de conchas e corais. Ademais, muitos seres vivos têm dificuldade em se adaptar a essas condições e podem ficar sem energia para crescer ou se reproduzir.
Como os mares são protegidos atualmente?
Para lidar com essas ameaças, países criam zonas de proteção marinha. A maior delas está na costa do Havaí, nos EUA.
As regras de proteção nessas zonas variam de país para país. Muitas vezes isso significa a proibição da pesca ou da construção de parques eólicos off-shore.
Atualmente, menos de 9% dos oceanos são zonas de proteção, mas só 3% proíbem a pesca.
“Não podemos resolver todos os problemas com zonas de proteção marinha. As mudanças climáticas ou o plástico não ligam para essas zonas”, observa Duarte.
Meta é ter menos plástico nos oceanos
Para frear a poluição dos mares com lixo plástico, a ONU tenta há anos selar um acordo. As negociações mais recentes esbarraram na resistência de grandes países petrolíferos – matéria-prima do plástico – como Arábia Saudita e Rússia. O diálogo será retomado em agosto deste ano na Suíça.
Além disso, pesquisadores têm buscado há anos alternativas ao plástico convencional. Cientistas japoneses, por exemplo, afirmam ter desenvolvido um tecido que se dissolve na água salgada em questão de horas. Mas essas propostas ainda não resolvem o problema das enormes ilhas de lixo plástico nos oceanos.
Quem decide sobre os recursos marinhos?
Quase 40% da superfície marítima é regida por leis nacionais. Essas áreas estão localizadas a uma distância de cerca de 370 quilômetros de cada país. Depois disso, vem o alto-mar, que pertence a todos; não à toa, ele é frequentemente chamado de “herança comum da humanidade”.
Por muito tempo, esse espaço não foi regulado. “Por causa disso, muitos recursos dos oceanos foram saqueados sem que ninguém fosse responsabilizado”, aponta Duarte.
E só 1% do alto-mar é protegido, porque a comunidade internacional foi incapaz de chegar a um consenso sobre outras regiões além da Antártida.
Um Tratado do Alto-Mar (também conhecido pela sigla BBNJ) visa remediar essas falhas. Em 2023, após 15 anos de negociações, ele foi assinado pela maioria dos países, mas ainda não está em vigor; para isso, ainda precisa ser ratificado por pelo menos 60 nações, mas só 32 o fizeram até agora – muitos deles pequenos países, mas também Bangladesh e França. Alemanha, Brasil e os EUA ainda não ratificaram.
A comunidade internacional também selou um acordo para proteção da biodiversidade marinha, estabelecendo a meta de colocar 30% dos oceanos sob proteção até 2030. Essa meta foi estabelecida na Conferência de Biodiversidade da ONU de 2022, no Canadá.
É um objetivo ambicioso, diz Duarte. “Vai demorar até que as nossas ações surtam efeito”, avalia. Ainda assim, ele está otimista: “Se nós concordarmos com essa proteção, poderemos deixar aos nossos filhos e netos um oceano em 2050 mais ou menos parecido com o que nossos avós conheceram.”
Autor: Katharina Schantz

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